Pouca gente imagina como festas populares do interior do Brasil conectam tantas religiões e histórias de luta. O documentário Louvação à Ibejada dá um mergulho nessa realidade, mostrando a celebração de São Cosme e Damião entre as águas e campos do Pantanal. Dirigido por Thayná Cambará, a obra foi exibida em primeira mão durante o Festival América do Sul, agitando Corumbá e atraindo olhares para rituais que, no dia a dia, quase passam despercebidos.
O filme pega recortes de 2021 e 2022 e costura cenas marcantes de festas, partilha de doces, rezas e promessas feitas ali, de coração aberto. O que chama atenção é o modo como religiões diferentes – como católicos, umbandistas e candomblecistas – compartilham não só o espaço, mas afeto, respeito e esperança. Tudo acontece sob o clima único do Pantanal, numa convivência cheia de ritmos, cheiros e sabores que só ali se encontra.
Thayná Cambará não assina só como diretora: ela é filha da região e segue sua própria fé na umbanda. Essa visão de dentro faz toda diferença ao retratar pequenos gestos e rotinas, sem folclorizar nem romantizar. No documentário, fica nítido como tradições afro-brasileiras se espalham pelas músicas, pelas panelas, pelos conselhos dados no portão de casa. Não são só práticas religiosas, mas parte viva do jeito de ser do povo pantaneiro.
O projeto contou com incentivo da Lei Paulo Gustavo e apoio de instituições culturais locais, mostrando como parceria faz diferença para dar voz a quem faz cultura de verdade. Além do filme, o festival abriu espaço para debates sobre reconhecimento de lideranças negras no saber religioso, como nos casos de Mãe Elenir e Mãe Alexandra, que foram homenageadas recentemente pelo estado.
Crianças também tiveram vez, com oficinas literárias sobre orixás, distribuição de livros e kits educativos. A ideia foi envolver todo mundo — adultos e pequenos — numa roda de conhecimento e respeito pelos saberes ancestrais. No fim das contas, 'Louvação à Ibejada' ajuda a lembrar que resistência no Pantanal é feita, também, de doçura e de fé compartilhada entre vizinhos, amigos e até desconhecidos.