Carolina Dieckmann mergulha no alcoolismo materno em '(Des)controle' e transforma dor em arte

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Carolina Dieckmann mergulha no alcoolismo materno em '(Des)controle' e transforma dor em arte
  • Criado por:Clarice Almeida
  • Completado em: 27 abr 2025
  • Categorias: Cultura

O drama íntimo e corajoso de Carolina Dieckmann em '(Des)controle'

A coragem de Carolina Dieckmann em encarar suas dores mais profundas ganha vida nas telas com o filme (Des)controle. Ela não faz apenas mais um papel dramático; a atriz investiga as próprias cicatrizes ao dar rosto e voz à Kátia Klein, uma autora de livros infantis famosa que se vê afundada no álcool e em bloqueios criativos quase sufocantes. O que diferencia esse trabalho de tantos outros é que Carolina escolheu atravessar o tema não só como intérprete, mas também como filha de uma mulher que lutou — e perdeu — para o alcoolismo.

Na trama dirigida por Iafa Britz, o reflexo das percepções sobre saúde mental ganhou espaço justamente no contexto da pandemia. Esse período trouxe à tona questões veladas, como ansiedade, luto e depressão. Foi nesse ambiente de inquietação que Carolina mergulhou de cabeça no universo de quem perde o controle da própria narrativa. Ela encarou o desafio de emagrecer oito quilos para se aproximar do estado físico e emocional de sua personagem, trazendo uma vulnerabilidade palpável em cada cena rodada pelos bares e espaços noturnos do Rio de Janeiro.

Transformando dor pessoal em criação coletiva

Transformando dor pessoal em criação coletiva

Não faltam histórias no cinema sobre dependência, mas Carolina apostou na humanização como chave para retratar Kátia. O olhar que ela lança sobre a personagem carrega o peso do que viu e sentiu ao lado da mãe, ecoando em gestos pequenos — como a tentativa frustrada de retomar a vida social após uma separação — e nos momentos de maior desamparo, quando o caos interno escapa sem filtro diante do público. Kátia não é heroína nem vilã; ela simplesmente é. Essa decisão de mostrar cada fissura e recaída torna o drama algo próximo, possível e dolorosamente real para quem assiste.

No roteiro, a crise criativa funciona tanto como símbolo quanto como ferida aberta. Criadora de histórias para crianças, Kátia perde não só a capacidade de escrever, mas também a conexão com sua própria essência após perdas pessoais e traumas nunca superados. O papel exige uma entrega rara, marca de uma atriz disposta a ir além dos clichês do drama. Segundo Carolina, a sensação de esgotamento e vazio não foi construída somente a partir de roteiro, mas do convívio com experiências verdadeiras de pessoas que enfrentam vícios, incluindo sua mãe.

A força desse trabalho está, também, no modo como o cinema brasileiro aparece aqui: mais sensível, olhando para as fragilidades humanas sem medo da exposição. A parceria com Britz, que dirigiu o projeto com clara preocupação em não romantizar o sofrimento, deixa espaço para que temas antes velados ganhem luz e olhar crítico, principalmente para quem ainda imagina que o alcoolismo é apenas uma falha moral.

O resultado em (Des)controle é uma narrativa que alia o talento dramático de Carolina Dieckmann a uma discussão urgente sobre a saúde mental, os limites da arte e o custo silencioso do vício para quem ama ou convive com alguém nessa jornada. A proposta não é solucionar ou educar, mas permitir que a dor, enfim, seja compartilhada — e nesse gesto, talvez, um passo para a reinvenção de todos os envolvidos.