Bicampeonato no Maracanã
O Flamengo tornou a noite de sábado no Maracanã um déjà-vu feliz para sua torcida. Em uma final eletrizante, o rubro-negro venceu o Barcelona por 6 a 5 nos pênaltis, depois do 2 a 2 no tempo normal, e ergueu pela segunda vez seguida o troféu da Copa Intercontinental Sub-20. A decisão, disputada às 16h30 (de Brasília), coroou uma geração acostumada a jogos grandes — e que não se intimidou diante de uma base catalã histórica.
O roteiro foi daqueles de prender a respiração. Lorran, motor do meio-campo, abriu o placar logo aos 10 minutos do primeiro tempo, aproveitando a boa pressão inicial do Flamengo. Na volta do intervalo, o Barcelona reorganizou as linhas e buscou intensidade pelos lados: Virgili empatou aos 25 da etapa final e, pouco depois, aos 49, Cortés virou o jogo. O Maracanã mal teve tempo de assimilar quando, no minuto seguinte, Iago se antecipou na área e testou firme para igualar: 2 a 2 e clima de nervos à flor da pele.
Nos pênaltis, brilhou o herói improvável que toda final costuma pedir. O goleiro Léo Nannetti pegou duas cobranças — primeiro de Hernández e, já nas alternadas, de Parriego — e segurou o título. Do lado rubro-negro, João Victor, Iago, Pablo Lúcio, Felipe Teresa, Lorran e, por último, Carbone converteram. Matheus Gonçalves foi o único a parar no goleiro. Entre os espanhóis, Virgili, Oduro, Cortés, Kluivert e Nomoko marcaram, mas as duas falhas custaram caro.
O apito final trouxe a imagem que muita gente no clube começa a se acostumar a ver: meninos em círculo, mãos erguidas, medalhas no peito e um Maracanã em festa. É o bicampeonato da competição e a confirmação de que a base do Flamengo, além de produzir, sabe competir sob pressão.
Jogo de xadrez, nervos de aço e o peso desse título
A Intercontinental Sub-20 nasceu do acordo de cooperação assinado por UEFA e CONMEBOL em dezembro de 2021 e virou vitrine rápida: campeões europeus da Youth League contra os vencedores da Libertadores Sub-20. Esta foi a quarta edição e, de novo, o equilíbrio deu o tom. Para o Flamengo, não é só taça: é a primeira equipe a vencer duas vezes e a primeira a defender o título com sucesso, exatamente no mesmo palco.
O Flamengo chegou como campeão da Libertadores Sub-20 de 2025 e com a confiança de quem já havia levantado o título em 2024, contra o Olympiacos. A espinha dorsal se mantém: zaga forte, meio-campo dinâmico e velocidade nas pontas. Bruno Pivetti armou um 4-3-3 agressivo no início para ganhar campo e facilitar a condução de Lorran entre linhas. Funcionou na largada e permitiu o gol cedo, cenário ideal para controlar a ansiedade de uma final.
Do outro lado, o Barcelona, tricampeão da Youth League (o terceiro título veio em abril de 2025), fez sua estreia nesta Intercontinental porque conquistas anteriores ocorreram antes da criação do torneio. O time dirigido por Belletti ajustou a marcação no segundo tempo, adiantou os laterais e empurrou o jogo para o campo do Flamengo. A virada expressou essa mudança de postura, com Cortés chegando de trás e atacando o espaço.
Quando o 2 a 1 parecia complicar a noite rubro-negra, apareceu a resposta emocional que diferencia campeões. No minuto seguinte, Iago escapou da marcação, ganhou o primeiro pau e cabeceou para a rede. O empate tão imediato desmontou a euforia espanhola e recolocou o Flamengo no jogo, com a torcida puxando o time para a reta final.
Nos pênaltis, a execução fez a diferença. Confiança na batida, leitura do goleiro e frieza para alterar a trajetória no último passo. Léo Nannetti foi decisivo no timing: esperou o deslocamento e explodiu para as laterais nas duas defesas-chave. E quando a disputa entrou nas alternadas, o controle emocional pesou do lado rubro-negro, selado na cobrança firme de Carbone.
Resumo das cobranças:
- Flamengo: converteram João Victor, Iago, Pablo Lúcio, Felipe Teresa, Lorran e Carbone; Matheus Gonçalves não converteu.
- Barcelona: converteram Virgili, Oduro, Cortés, Kluivert e Nomoko; Hernández e Parriego perderam.
Além do troféu, a final jogou holofotes sobre peças que batem na porta do profissional. Lorran, de condução rápida e passe vertical, comandou o ritmo. Iago mostrou leitura de área e liderança defensiva. João Victor e Daniel Sales sustentaram duelos físicos, e Felipe Teresa entrou bem para dar gás no ataque. Do outro lado, Cortés e Virgili confirmaram por que são nomes respeitados nas categorias de base espanholas.
Escalações oficiais:
- Flamengo: Léo Nannetti; Daniel Sales, Iago, João Victor e Gusttavo (Carbone); João Alves (Fabiano), Guilherme Gomes (Pablo Lúcio) e Lorran; Matheus Gonçalves, Johua (Felipe Teresa) e Pedro Leão (Shola). Técnico: Bruno Pivetti.
- Barcelona: Aller; Xavi Espart, Cuenca, Cortés e Farré (Oduro); Fariñas (Parriego), Pedro Rodríguez (Marqués) e Junyent (Kluivert); Hernández, Virgili e Gistau (Nomoko). Técnico: Belletti.
Para o clube carioca, o bicampeonato também reforça um modelo. O Flamengo é o primeiro a vencer duas vezes a Libertadores Sub-20 e agora repete a dose na arena global, com uma base que ganha minutagem, títulos e casca. A transição para o profissional tende a acelerar, seja no elenco principal, seja em empréstimos estratégicos para dar rodagem.
O Barcelona volta para a Catalunha com lições úteis. A organização se manteve, a capacidade de virar jogos também, mas a gestão emocional nos minutos seguintes à virada e na marca da cal foi determinante. Em partidas desse nível, o detalhe decide — e a noite foi do goleiro rubro-negro.
O acordo UEFA–CONMEBOL cumpre o que prometeu: mais encontros entre escolas de futebol que pensam o jogo de formas diferentes. Com o Maracanã novamente como palco, a Intercontinental Sub-20 consolidou-se como torneio que não só revela talentos, mas também os testa em ambientes hostis e cheios, condição que acelera desenvolvimento e separa promessas de realidade.