A temporada de A Fazenda 2025 nem começou e já ganhou um enredo fora da sede. Gaby Spanic, a eterna vilã de A Usurpadora, virou assunto ao aparecer como nova embaixadora da Zeroum, casa de apostas apresentada como criação de Deolane Bezerra, enquanto se prepara para o reality da Record. Em um vídeo compartilhado no Instagram e replicado no X, a atriz surge arrumando as malas e crava: “Pronta! Cheguei na Zeroum”. Bastou isso para a internet explodir.
Nos comentários, o tom foi de ironia e cansaço. Teve gente dizendo que “nem no galinheiro rural o público escapa dos sites de aposta”. Outros pegaram carona na nostalgia e lembraram Paola Bracho, personagem icônica de Gaby, para dizer que “a vilã faria muita coisa, menos isso”. Também pipocaram suposições sobre dificuldades financeiras, sempre sem prova, empilhadas em cima de um sentimento já conhecido: a fadiga com publicidade de apostas no feed.
Gaby, hoje com 51 anos, tem histórico que pesa. A Usurpadora, exibida no Brasil pelo SBT, virou fenômeno nos anos 1990 e moldou a memória afetiva de uma geração. Depois vieram outras novelas, participações em realities e programas de variedades no México e na América Latina. Trazer uma estrela desse tamanho para um reality rural no Brasil é, por si, uma jogada de impacto. Somar a isso a imagem de uma casa de apostas é o ingrediente que faltava para a polêmica ganhar corpo.
Nos bastidores, o nome de Gaby é tratado como presença certa no elenco. Oficialmente, a emissora guarda silêncio. A questão agora é como esse combo — reality de alto alcance e parceria com empresa de apostas — vai se desenrolar dentro das regras comerciais do programa, que costuma ter uma prateleira robusta de patrocinadores e cláusulas para evitar conflito de marcas.
O estopim aqui não é só Gaby. O público vem demonstrando impaciência com a enxurrada de publicidade de apostas esportivas e jogos online. Em 2023, o Brasil aprovou a Lei 14.790, que regula as apostas de quota fixa. Em 2024, o Ministério da Fazenda detalhou diretrizes de comunicação, exigindo avisos claros, a proibição de apelos a menores e a vedação de promessas de “dinheiro fácil”. O Conar também reforçou regras e tem sido acionado com frequência para analisar campanhas do setor.
Para quem se associa a essas marcas, o risco é calculado. O cachê costuma ser alto, mas a reação pode ser dura. Quando a figura pública tem um capital simbólico forte — caso de Gaby, ligada a um clássico da TV — o choque fica ainda mais visível. A pergunta que roda as redes é direta: vale trocar reputação por um contrato de apostas, num momento em que o tema está sensível?
Deolane Bezerra, por sua vez, acrescenta outra camada. Advogada e influenciadora com base gigante nas redes, ela teve uma passagem conturbada por A Fazenda 14, marcada por brigas e saída antecipada. Já foi alvo de apurações policiais relacionadas a rifas e jogos, o que alimenta antipatia de parte do público. Sua associação à Zeroum acabou empurrando Gaby para um terreno ainda mais minado, com comentários que misturam rejeição à figura da influenciadora e à publicidade de apostas.
A reação nas redes seguiu um roteiro conhecido: memes, cutucadas e debates sobre responsabilidade. Em meio ao humor, há um ponto sério. Marcas de apostas precisam cumprir regras de comunicação, incluindo 18+, mensagens de jogo responsável e limites de exposição. Influenciadores e artistas, quando vestem a camisa de “embaixadores”, passam a ser corresponsáveis pela forma como a mensagem chega ao público — especialmente jovens e fãs mais impressionáveis.
Para Gaby, o timing pesa. A proximidade com A Fazenda 2025 amplia a vitrine. Em reality de convivência, tudo é teste de imagem: quem entra com polêmica, vive sob lupa desde o primeiro dia. O elenco reage, a edição seleciona, a plateia julga. Se o tema apostas já chegou quente, qualquer menção à marca dentro do jogo — mesmo que indireta — tende a acender alertas comerciais e regulatórios.
Há também o xadrez dos contratos. Reality shows costumam controlar aparições comerciais dos participantes e proteger patrocinadores oficiais. Caso Gaby tenha compromissos públicos com a Zeroum, isso pode forçar acordos de bastidor para ajustar exposição, ou mesmo silenciar o assunto durante a temporada. A emissora evita ruído, a marca não quer perder o holofote e a participante precisa preservar a própria narrativa. É uma equação delicada.
Do lado do público, o cansaço com anúncios invasivos pesa mais do que o gosto por treta. O que se vê no X e no Instagram é um incômodo que não se limita a um nome. Usuários reclamam do excesso de publis de apostas, dos apelos de “ganhos rápidos” e da presença constante dessas marcas em futebol, reality, gaming e até perfis de lifestyle. Esse clima geral ajuda a explicar por que o vídeo de Gaby, simples e curto, virou faísca.
Vale notar: a regulamentação recente não proíbe parcerias, mas aumenta a responsabilidade de todos. Marcas precisam de licenças e avisos; embaixadores, de cautela com linguagem e público-alvo. Quando o rosto é conhecido internacionalmente — e carrega a lembrança de um ícone da TV — o efeito colateral de um passo mal calculado pode ser grande, em especial num mercado que não tolera deslize por muito tempo.
Enquanto isso, a curiosidade segue alta. Gaby entra no reality com a sombra de uma polêmica e a força de um legado que ainda mobiliza fãs no Brasil. Se a estratégia foi ganhar buzz, funcionou. O que vem a seguir depende do jogo: como ela vai se posicionar diante do assunto, como a edição vai enquadrar a narrativa e como o público — cansado de publicidade de apostas, mas obcecado por bons personagens — vai reagir quando as câmeras começarem a rodar 24 horas por dia.
Gaby Spanic, estrela de 'A Usurpadora', foi anunciada como embaixadora da Zeroum, casa de apostas associada a Deolane Bezerra, enquanto se prepara para 'A Fazenda 2025'. O vídeo do anúncio viralizou e gerou críticas, com fãs apontando desgaste do público com publicidade de apostas. A atriz, de 51 anos, traz forte apelo nostálgico no Brasil. O caso expõe o incômodo crescente com o tema.