Há mais de três séculos, nas águas do Rio Paraíba do Sul, um evento singular deu início a uma das mais profundas devoções do povo brasileiro: a de Nossa Senhora Aparecida. Em outubro de 1717, três humildes pescadores da capitania de São Paulo, Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves, se depararam com algo que mudaria suas vidas e a história religiosa do país. Durante uma jornada de pesca difícil, onde os peixes eram escassos, eles capturaram em suas redes o corpo de uma imagem de terracota. Mais adiante, no mesmo rio, encontraram a cabeça da mesma imagem. Após unir as partes, uma abundância inesperada de peixes apareceu, considerado por muitos como o primeiro milagre da santa.
O que foi encontrado naquele dia não era uma simples escultura. Identificada como Nossa Senhora da Conceição, advinha de uma produção que muitos acreditavam pertencer ao século XVII. O elemento mais curioso sobre a imagem, entretanto, era sua coloração. Originalmente, sua cor não era preta; acredita-se que o tempo submerso no rio acarretou na mudança de sua tonalidade, conferindo-lhe o nome de Nossa Senhora Aparecida. Este fato, ao contrário de apagar seu valor, parece tê-la tornado ainda mais significativa para as comunidades negras e escravas da época, simbolizando uma espiritualidade próxima e acessível a todos.
Com o passar dos anos, a fama de Nossa Senhora Aparecida se espalhou rapidamente. Milagres e graças foram atribuídos à sua intercessão, o que levou à crescente visitação ao local onde a imagem era mantida. Assim, em 1745, foi erguida a primeira capela para abrigar a santa, assumindo um papel central nas práticas religiosas dos fiéis. Este santuário inicial foi a pedra fundamental da atual cidade de Aparecida, que se tornaria o principal destino de peregrinação católica no Brasil. Em 1928, o local foi elevado à categoria de município, e em 1980, a Basílica de Aparecida foi consagrada por João Paulo II, destacando-se como o maior santuário mariano do mundo.
Atualmente, o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida recebe cerca de 12 milhões de pessoas anualmente. Este fluxo constante de peregrinos e turistas reflete a profunda devoção que cerca a santa. O dia 12 de outubro é particularmente significativo, não apenas por ser feriado nacional, mas por reunir milhares de devotos em celebrações e eventos religiosos que reafirmam a herança cultural e espiritual que Nossa Senhora Aparecida representa. Além das missas e procissões, uma série de atividades culturais movimenta a cidade, transformando o feriado em um evento de grande significado espiritual e comunitário.
A devoção a Nossa Senhora Aparecida transcende o campo religioso, tendo uma forte influência social e cultural. A santa, com sua história de milagres e devoção popular, também carrega um simbolismo político e histórico significativo. Ela tem sido um elo de identificação para os diversos grupos étnicos e sociais que compõem a população brasileira, refletindo questões de igualdade e resistência enfrentadas ao longo dos anos. A obra de Rodrigo Alvarez, "Aparecida - A Biografia da Santa que Perdeu a Cabeça, Ficou Negra, Foi Roubada, Cobiçada pelos Políticos e Conquistou o Brasil", explora esses aspectos, apresentando uma visão aprofundada e crítica sobre a trajetória da santa e seu impacto no Brasil contemporâneo.
A história de Nossa Senhora Aparecida destaca a capacidade da fé de unir pessoas em busca de conforto e direção espiritual. Em meio a desafios e mudanças sociais, a devoção à santa se manteve como uma constante na vida de milhões de brasileiros, um farol de esperança e um marco da identidade católica do país. Com seu santuário sendo um dos maiores pontos de peregrinação do mundo, Nossa Senhora Aparecida continua a inspirar e guiar seu povo, solidificando a importância dessa data tão cheia de significado.