Na manhã de 23 de setembro, o estúdio de Hollywood voltou a ecoar as piadas de Jimmy Kimmel. O apresentador chegou à bancada cercado de luzes, música ao vivo e um leve suspiro de alívio da plateia, que parecia ter esperado o retorno como se fosse um evento esportivo. A pausa de seis dias, decretada pela ABC, virou assunto de mesa redonda em programas de política e de análise de mídia.
Contexto da suspensão
A onda começou em 17 de setembro, quando Kimmel fez referência à morte de Charlie Kirk, líder do conservadorismo jovem. O comentário, embora breve, foi considerado por executivos da Disney como "insensível" e "mal cronometrado". Em comunicado, a empresa explicou que a suspensão visava "evitar inflamar ainda mais um momento já tenso para o país".
Ao mesmo tempo, a decisão chegou ao ouvido do presidente da FCC, Brendan Carr. Em entrevista ao comentarista conservador Benny Johnson, Carr sugeriu que o órgão poderia intervir, mas, dias depois, esclareceu que não havia envolvimento governamental. "Foi uma decisão corporativa, baseada em rating e questões internas", afirmou em um fórum em Nova‑Iorque.
O presidente Donald Trump não perdeu tempo. Em sua rede social, ele escreveu: "Não acredito que a ABC Fake News devolveu o emprego ao Kimmel. Por que trazer alguém que não é engraçado?" A crítica alimentou ainda mais a disputa, com seguidores de ambos os lados tomando posição nas redes.
Enquanto isso, dentro da Disney, o clima era de negociação. Executivos relataram ter passado dias em "conversas cuidadosas" com o apresentador, buscando um caminho que preservasse a credibilidade da emissora sem abrir mão da liberdade criativa.
O retorno e as reações
Quando as luzes se acenderam na terça‑feira, Kimmel quebrou o gelo com a frase típica de abertura: "Obrigado. Obrigado. Como eu estava dizendo antes de ser interrompido…". O público respondeu com risos e aplausos, sinalizando que a tensão havia se convertido em curiosidade.
O programa manteve o formato habitual: monólogo de abertura, entrevista com celebridades, música ao vivo e quadros de humor. Entre os convidados, esteve a cantora indie Maya Reyes, que cantou seu último single. A presença de convidados de diferentes espectros políticos mostrou que o programa ainda busca ser um ponto de encontro de ideias, mesmo sob vigilância.
Na hora do intervalo, a atriz Rosie O'Donnell postou um vídeo no Instagram apoiando Kimmel, dizendo que ele "merece estar no ar" e que a suspensão foi "exagerada". O apoio de colegas do ramo ajudou a mudar o clima nas redes, que passaram a elogiar a "coragem" do apresentador em enfrentar o debate.
Analistas de mídia apontam que o caso ilustra a fragilidade das noites de talk‑show nos EUA. Entre a pressão de anunciantes, as demandas de grupos de ativismo e a vigilância de agências reguladoras, os apresentadores precisam equilibrar humor e responsabilidade. A situação de Kimmel mostra que, apesar das controvérsias, a plateia ainda valoriza a autenticidade.
Para o público, a volta de Kimmel marcou mais que um retorno de programa; foi um lembrete de que humor pode ser ferramenta de crítica, mas também alvo de censura implícita. Com a noite ainda fresca, a discussão sobre limites do discurso nas telas continua em alta, prometendo novos episódios de tensão entre entretenimento e política.